28 de fev. de 2011

TRIBO DE LEVI OU DA TRIBO DE JUDÁ?




Por muito tempo, temos tratado do assunto louvor e adoração na igreja numa associação ao serviço levítico do tabernáculo de Moisés, Davi e depois do templo de Salomão. Quando chegamos em Ezequiel, uma palavra do Senhor ao profeta, condiciona ao serviço do altar somente os levitas da casa de Zadoque. O templo de Salomão foi destruídos pelos babilônios, reconstruído por Esdras e Neemias, profanado e destruído pelos gregos, reconstruído por Herodes nos tempos de Jesus e início da igreja e novamente destruído, agora pelos romanos. Desde o templo de Herodes e sua destruição, a igreja nunca teve templos em que pudesse ter uma liturgia, a igreja tinha as casas, os restaurantes (cenáculo), e onde pudesse juntar pessoas. Por mais de 300 anos a igreja viveu sem templos, até que no início da chamada idade das trevas, ou idade média, começou-se a levantar estruturas enormes, templos e se incorporar aos cultos os ritos judaicos. Mais de 1000 anos se passaram e a adoração nos templos era feita por rituais e musicas corais, também numa estrutura que reportava ao coral do tabernáculo de Davi. Com a reforma protestante no século XVI, a música na igreja começou a ser mais entoada pela congregação. Muitos dos hinos cantados até o dia de hoje, tiveram suas melodias antes entoadas nas tabernas e a elas foram atribuídas uma letra cristã. E assim, ficamos preservando esta tradição por quase quinhentos anos, por todas as igrejas protestantes, os mesmos hinos tradicionais. Nos séculos XIX e XX, houveram várias ondas de avivamento e essas trouxeram novos hinos, mas a partir da década de 60, começaram a surgir os “corinhos” que tinham uma linguagem mais simples e uma mensagem mais objetiva. No mover desse avivamento surgiram os louvores das Comunidades, e um movimento de restauração do louvor e adoração a Deus através da música. A base bíblica buscada para esta restauração foi o serviço levítico nos tabernáculos e templo de Salomão. E os músicos e cantores foram identificados com esse serviço, formaram-se nas igrejas o “Ministério de louvor” e os músicos e cantores eram e ainda são chamados de levitas. Embora tudo o que tenhamos hoje seja uma realidade histórica, podemos também observar que essa história muda a partir de experiências e compreensões diferentes sob uma ação soberana do Senhor.

Quero hoje, ousar a tentar mudar um paradigma relacionado à essa abordagem levítica da música na igreja. Quero olhar o campo da adoração a partir do rei Davi, que não era levita, mas da tribo de Judá, da mesma linhagem do homem Jesus de Nazaré, através do qual eu fui enxertado na “Oliveira”(Rm 11.17) e pelo qual me tornei, pela fé, filho de Abrão(Gl 3.7, Tg 2.23). Portanto, espiritualmente eu também pertenço à tribo de Judá.!

Por isso, quero entender a adoração por um judeu e não por um levita. Sendo assim, vamos observar o que Davi tem a nos ensinar.

1. Davi era judeu, ou seja, da tribo de Judá (I Sm 16.1-13)

2. Davi era músico,era harpista, não tocava no tabernáculo mas, tocava no curral de ovelhas, e não parecia se importar muito com isso. - Davi conciliava cuidado com as ovelhas e excelência no tanger da harpa, tanto que, ao se procurar um excelente tangedor, Davi era o homem.

3. Davi foi ungido rei ainda novo, recebeu um chamado para pastorear uma nação. Enquanto as coisas não aconteciam, permanecia no curral tocando e cuidando do seu pequeno rebanho, incomparável com os milhares que ele iria cuidar quando governando como rei.

4. Davi foi chamado ao palácio de Saul para tanger as músicas que libertavam Saul da opressão, e o faz como súdito submisso, embora já soubesse que tinha sobre sua cabeça a unção de rei (humildade). (I Sm 16.14-23).

5. Davi pastor, tangedor do rei, ao ver sua nação sendo humilhada por um gigante filisteu, enfrenta o inimigo com coragem e fé no Nome do Senhor. O pastor músico é também um guerreiro! Interessante que também temos um inimigo. (I Sm 17.1-58).

6. Davi é injustiçado e perseguido, foge para as cavernas e lá lidera um grupo que chegou a 400 homens. O pastor e músico, atrai as pessoas. Começa a transição, deixa de cuidar de ovelhas para cuidar de pessoas. É na caverna, na chamada “Fortaleza” que Davi compõe salmos e músicas. Sendo perseguido, vivendo em caverna e discipulando 400 homens de má índole, ele não deixa de tocar e compor. (I Sm 19.1-19, 21.1-22.5, 26.1-25).

7. Davi depois da morte de Saul é levantado rei em Hebrom e sua primeira ação como governante, é trazer de volta a arca da aliança em meio a muita música e festa. Erra na forma, mas conclui o seu propósito em meio à música e dança. ( II Sm 6.1-23)

8. Davi torna-se rei e organiza o serviço do tabernáculo com muita música, orquestra e coral, como nunca se tinha visto antes. Ele não toca no tabernáculo, mas lidera para que haja música excelente no tabernáculo, contribui com suas composições e salmos. Davi é um adorador para além do tabernáculo. Davi aprendeu a adorar no curral, no campo de batalha, na caverna, no palácio e no templo.

9. Davi comete o pecado de adultério e assassinato e essa tragédia pessoal e familiar é transformada em salmos e música. (II Sm 11.1 –12.2 ; Sl 32, 51))

10. Davi deixa um legado espiritual, sobre o qual hoje, somos abençoados e guiados à adoração, através de sua vida e dos salmos que compôs.( II Sm 22.1-23.7)

11. Da linhagem de Davi vem o nosso Salvador, irmão mais velho, Jesus Cristo (Mt 21.9, Jo 7.42). Nele nos tornamos filhos de Deus e herdeiros da promessa. Nele fomos feitos filhos de Abraão pela fé. Nele fomos feitos governo e sacerdócio( I Pe 2.9), não mais na linhagem de Levi, mas na linhagem de Jesus segundo a ordem de Melquisedeque, rei de Salém, (Jerusalém) que ficava em Judá (Hebreus 5.10,6.20,7.1,17).

12. Dentro desta perspectiva meu padrão de adorador é Davi e com seu exemplo eu aprendo as seguintes lições:

1) Para ser adorador não preciso de palco, posso adorar no quarto, na sala, no quintal, no curral.

2) Para ser adorador não preciso viver no “templo” ou do “templo”, posso ser um músico excelente cuidando de ovelhas, na guerra, no palácio ou na caverna, e até no templo, lugar da minha paixão. Posso ser excelente na música tendo outro trabalho ou função.

3) Enquanto não sou chamado para tocar ou cantar no palácio, preciso cuidar com zelo das minhas ovelhas e posso abençoa-las com a excelência do dom que Deus tem me dado.

4) Posso tocar no “palácio” e viver disso, mas não preciso depender disso para viver. Preciso ser flexível e até em períodos de caverna, aprender a viver.

5) Para ser adorador preciso guerrear contra o inimigo e vence-lo e assim provar para mim mesmo que aquilo que eu canto sobre Deus é o que eu creio e o que eu vivo.

6) Posso ser um músico excelente, mas este dom não anula meu chamado e vocação para fazer discípulos, e mesmo nos momentos mais difíceis da minha vida, momentos de caverna, eu vou sobreviver, eu vou vencer, eu vou discipular e vou compor, tocar e cantar.

7) Sendo líder, vou guiar os meus discípulos no caminho da arca, no caminho da presença de Deus. Não estarei na frente deles, sendo visto por eles. Irei à frente deles, sendo seguido por eles.

8) Como adorador e líder, vou ensinar, vou compor, vou inventar, vou organizar, para que o culto, a Celebração, a versão do tabernáculo, tenha o melhor, o mais excelente, uma adoração digna do Senhor.

9) Mesmo na tragédia do pecado, no caminho do arrependimento, tocado pela Graça, quero adorar.

10) Quero ser um adorador desta geração que deixa um legado para as gerações seguintes, fazendo-as através da música e da poesia, olharem e adorarem o Autor e Consumador da fé.

11) Quero como filho de Deus em Cristo Jesus, exercer o meu sacerdócio santo e conduzir através de meu testemunho inúmeras pessoas a poderem entrar no “Santo dos Santos” pelo vivo e novo caminho que é o sangue de Jesus.

12) Quero ser identificado como um filho de Davi, um adorador, pastor, servo, guerreiro vencedor, líder, governante, organizador, discipulador, pecador arrependido, um abençoador de gerações e acima de tudo um instrumento para levar as pessoas à salvação.

Por: PR. RICARDO PARISE